My beloved "cachené"

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My beloved "cachené"

21/09/2020

Acabados de chegar os novos lenços - cachené!


E a propósito da sua chegada, e de como os chamados lenços CACHENÉ são apreciados pelas gentes do folclore português, fui encontrar o seguinte texto a propósito de uma exposição denominada “O meu Cachené. Fotografia de Gisela e Antti Särkilahti” realizada em 2015 no Museu Dr. Joaquim Manso - Nazaré.


 

No catálogo colectivo on-line dos Museus portugueses - mais conhecido por MatrizNet, sob tutela da Direção-Geral do Património Cultural, onde podemos consultar as mais variadas peças de arte, arqueologia e etnologia, musealizadas e as suas respectivas fichas de inventário, encontra-se um inestimável texto que nos fala destes lenços e o seu uso pela mulheres da Nazaré. De lembrar também que as mulheres da Ribeira de Viana do Castelo usam estes lenços cachené.



Arménio Belo. Aspecto de um desfile da Mordomia, Festas de Nossa Senhora d'Agonia, em Viana do Castelo.



Blog: Olhar Viana do Castelo. Senhoras da Ribeira de Viana do Castelo durantes as Festas de Nossa Senhora d'Agonia.

O meu Cachené

Exposição de fotografia de Gisela e Antti Särkilahti, autores estrangeiros que têm vindo a colaborar com o Museu através da edição de fotografias sobre as “figuras” da Nazaré atual, evidenciando, por um lado, a persistência de um passado nostálgico e, por outro, a resposta criativa desta comunidade marítima às relações contemporâneas com o mar e o turismo.

Na Nazaré, muitas das mulheres ainda usam o traje tradicional no dia-a-dia. Esta exposição incidiu nas diversas maneiras de usarem o lenço (popular e localmente denominado por “cachené”), surgidas espontaneamente ou correspondendo a estados emocionais codificados a nível individual ou comunitário.

Se por um lado, as fotografias espelham um inventário exaustivo do quotidiano, por outro lado, enquanto registo esteticamente orientado, elas também desafiam a atentar na cor dos padrões dos tecidos, bem como nos ritmos sugeridos pelas criativas formas de colocar o lenço. Uma exposição de fotografia que convidou a olhar para a singularidade do traje feminino, servindo também de pretexto para o registo de práticas populares tradicionais, do foro do património imaterial.

Acompanhando as fotografias dos autores, estiveram em exposição algumas fotografias do Arquivo do Museu, assim como o desenho de Abílio, "Maneiras de pôr o lenço" (136 Des.), e um manequim que oferecia a possibilidade do visitante experimentar as várias maneiras de pôr o lenço.

 

DA FOLHA DE SALA DA EXPOSIÇÃO (texto Dóris Santos, 2015): "O traje tradicional insere-se no complexo mundo da comunicação não verbal. Assim o constatava o estudioso Luís Chaves (1945): “Como se falasse, utilizando para tal uma determinada linguagem, o traje adquire um valor de comunicação que faz dele um sinal; no caso da indumentária regional um sinal de gente que vivia na região onde se usava” (Luís Chaves, “Considerações sobre o traje popular”, Brotéria, 1945).

O hábito da mulher cobrir a cabeça vem de tempos imemoriais. A sua justificação pode estar associada a questões de genuína proteção do sol e do frio ou a efeitos estéticos e de beleza; mas ao uso do lenço ligam-se também questões de identificação social, de respeito pelo sagrado ou de transmissão de estados emotivos. Certo é que, até muito recentemente, era raro a mulher andar de cabeça descoberta. Na Nazaré, o lenço (ou “cachené, como é localmente conhecido) é peça essencial de um traje tradicional ainda usado no dia-a-dia por muitas das mulheres mais velhas. Se a capa negra e o chapéu de feltro já desapareceram (em uso apenas pelos grupos folclóricos), o lenço persiste na sua notoriedade, somando-se ao “avental de festa” como fator de disputa e vaidade. Depois de penteado o cabelo e feito o “rolo”, a mulher coloca o lenço, de lã ou de algodão, estampado com decorações geométricas ou florais simples, delimitadas por uma barra lisa. É um quadrado com c. 1 metro que, depois de dobrado em triângulo rectângulo, proporciona efeitos estéticos por vezes surpreendentes, pelos seus padrões, cores e maneiras de pôr.

Assim como o traje na sua globalidade, os lenços também denunciam a função social, de trabalho, festa ou cerimónia, sendo, nestes últimos casos, feitos de tecidos ou padrões mais cuidados. Por exemplo, os lenços em tom de roxo são mais comuns na proximidade do “Senhor dos Passos” (Quaresma); o preto ou o cinzento reservam-se aos momentos de luto. Em geral, no dia-a-dia, outrora, eram de cores escuras e usados indistintamente. Agora, tornam-se cobiça de quem procura os antigos padrões e tecidos, convertidos em preciosas raridades; combinam-se as cores com o resto das peças do vestuário; a lã é substituída por outros materiais mais sintéticos e os padrões vão obedecendo aos ditames do mercado e às poucas lojas que ainda os vendem na Nazaré. Consoante os traços da personalidade, os estados de espírito, as funções que a mulher esteja a desempenhar, para fins de agasalho ou nos momentos festivos ou “domingueiros”, as maneiras de dispor o lenço atraíram a lente de Álvaro Laborinho (1879-1970) e o lápis do artista Abílio de Mattos e Silva (1908-1985), nos anos 1930-70.

Hoje, continuam a sobressair no registo fotográfico de Gisela e Antti Särkilahti, dois autores estrangeiros que há vários anos vêm fotografando a Nazaré e as suas gentes. Atados de diversas maneiras, ou apenas sobre a cabeça caindo soltos, os lenços “falam” pelas mulheres que os usam.

Esta “comunicação” pressupõe a partilha de um mesmo sistema de valores e linguagem, frequentemente indecifrável para quem é exterior a essa comunidade.

Com esta exposição fotográfica, Gisela e Antti Särkilahti e o Museu Dr. Joaquim Manso prestam a sua homenagem às mulheres da Nazaré, últimas guardiãs desta herança cultural". 

Texto disponível em: http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Eventos/EventosConsultar.aspx?IdReg=11546

Museu Dr. Joaquim Manso in:  http://mdjm-nazare.blogspot.com/2015/06/exposicao-o-meu-cachene-fotografia-de.html